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Quando é verdadeiro e especial..

Estar ao lado de alguém tem que valer a pena. Tem que ser tudo que se precisa no momento que se precisa.
É lembrar daquela música e associar com a voz que o seu coração chama, pela pessoa que te faz lembrar daquela música.
Não é a presença em si, nem deve ser sua feições sejam elas atraentes ou não, mas sim a paz que invade você por dentro cada vez que olha nos olhos dessa pessoa te perguntando se está bem, se dormiu bem ou seja o que for.
Essa pessoa deve ser o rei dos pequenos requintes de sua delicadeza. Um bombom em cima do caderno, uma mensagem desejando boa prova, um buquê ou uma única flor em cima da cama... e claro, o olhar, aquele cativo e carinhoso de todos os dias que faz seu coração ceder.
Não precisam ser os gestos em si, mas sim a forma como isso tudo enche seu copo até a borda de tudo que você precisa no momento em que precisa, a paz ou a tormenta. Pode até não durar muito, mas você precisa abraçar, na vida, uma pessoa assim. Uma pessoa capaz de construir sorrisos sinceros na alma. Uma pessoa bem especial, basicamente encantadora. Uma pessoa que te faz sentir especial.

Descobrir que o tal “borogodó”, indispensável em qualquer relacionamento que se preze, está fundamentado no encanto. Não é no rostinho de boneca, no presente de natal caríssimo, muito menos no abdômen sarado. Encanto mesmo vem de dentro. Gente que faz seu coração gargalhar, que abraça quentinho colando o rosto, prepara o chá no fim de semana de gripe, que ri de si mesmo, cumprimenta o porteiro, que respeita o momento, o tempo, o vento. Gente que muitas vezes não sabe por qual bifurcação do caminho você veio, que tipo de bagagem você vem trazendo, mas tem certeza de que dedicação e respeito fazem parte do alicerce de qualquer relação, seja ela amorosa ou não. Gente que te basta.

Não sei dizer se o mundo anda carente de pessoas desse tipo ou se falta leveza para se permitir encantar. Existem hoje aproximadamente 7 bilhões de pessoas no mundo, e ainda assim minha vizinha não encontra uma companhia bacana para partilhar seu passeio no parque aos domingos. Ainda não encontrei alguém especial, ela diz suspirando. Sua ânsia encontra uma variedade de suspiros similares ao longo do planeta neste momento, e olhando pra ela, penso como ainda pode existir tanta gente solitária. O mantra do livro de cabeceira diz que quando a gente não sabe o que procura, não sabe reconhecer quando encontra. Será que não sabe mesmo ou estamos vivendo nossos dias com os olhares errados?

É o tal do enxergar com os olhos da face e não da alma. Tocar com a ponta dos dedos em vez de se permitir uma entrega completa, dessas que abraçam o todo e mudam a vida da gente. Porque beleza tem-se aos montes, encaixe de beijo na boca é fácil e se aprende; difícil mesmo é tirar o ar quando se vê. Complicado mesmo é ser apenas você para o outro, sem máscaras, maquiagens, rodeios, salto alto, camisa de marca, vodka na mesa da balada, foto no Facebook ou carro importado e, ainda assim, a sua essência bastar para o bem-estar do parceiro. Estas são as pessoas especiais: aquelas que sabem conceder seu encanto e aquelas que sabem reconhecer essa dádiva. Porque as pessoas especiais sabem pra quem aparecem. Tem que existir a sorte de reciprocidade e merecimento. Tem que saber enxergar além daquilo que a genética e o status social te permitem ver. Porque amor é assim, acontece ou não, mas se nosso coração está distraído com os atrativos “errados”, o acaso passa e a gente nem percebe. Este é o segredo daquele casal da faculdade que, aos olhos dos outros, pode parecer tão pouco convencional. Mais que a resposta para os desejos um do outro, eles são calma, aconchego e paz depois de uma semana de trabalho. São parceiros, amantes e amados; são especiais entre si, para si e só.

Amar é sentir aquele sentimento de plenitude que o olhar zeloso da pessoa em questão provoca… Esse não só deve permanecer como também se repetir, outras vezes, pelo caminho. Porque a principal delícia da vida é ter a oportunidade de esbarrar naquela pessoa especial, ao longo da travessia. Se o campo for florido, os sorrisos sinceros, os abraços apertados e os sentimentos genuínos, cedo ou tarde, um beija-flor pousa por ali e, dentre tantos que se foram, decide ficar. Se for o tempo da migração, nada se perde pra sempre. Pelo contrário, quando a mágica é real, conserva-se naquela porção gostosa, do amor, que sobrevive após o grosso do sentimento findar. Encanto é isso, a livre aproximação de alguém que tem toda a liberdade de quando bem entender, partir. Melhor ainda, encanto é a morada sem grades do amor que permite o voo para jardins mais floridos – porém, é muito mais convidativa a doce e livre permanência.

Texto de Danielle Daian, um tanto modificado.

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